Rogues
EUA, 2014
BRA, 2015
480 páginas
Fantasia, Thriller, Mistério
Organizadores:
George R. R. Martin e Gardner Dozois
Tradução:
Eric Novello, Ivar Jr., Marina Boscato, Ana Death Duarte, Taissa Reis, Carol Chiovatto, Ana Resende, Débora Isidoro e Petê Rissati
Editora:
Saída de Emergência
Classificação:
Ótimo
Um livro fascinante que reúne os melhores contos de grandes nomes da literatura fantástica. Inclui uma nova história de A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin. Se você é fã de literatura fantástica, irá se deliciar com esta antologia de contos organizada por George R. R. Martin e Gardner Dozois.
Obras inéditas dos melhores autores do gênero irão surpreendê-lo com enredos ardilosos e reviravoltas intrigantes. O próprio George R. R. Martin apresenta uma nova história do apaixonante e violento mundo de A Guerra dos Tronos, introduzindo um dos personagens mais canalhas da história de Westeros.
Acompanhe grandes autores, como Gillian Flynn, Neil Gaiman, Patrick Rothfuss, Scott Lynch e muitos outros, nesta coleção de histórias emocionantes sobre vigaristas, mercenários e ladrões.
“Como o Marquês recuperou o seu casaco”, de Neil Gaiman – Eu gosto como a narrativa do Neil se constrói meio absurda, mas de certa forma nostálgica e instigante. Os personagens são figuras interessantes e atrapalhadas, como já vi antes ao lê-lo, por isso é muito legal como ele consegue apresentá-los e seu mundo numa narrativa curta.
“Proveniência”, de David W. Ball – É um autor que não conhecia, mas pela pequena biografia é alguém com credencias quando se diz respeito a pesquisa e acuidade com a realidade das suas narrativas. Na história um pastor corrupto e ambicioso compra obras de arte famosas roubadas. Alguns diálogos parecem cuspir informações demais, perdendo-nos no ritmo, porém. É um thriller envolvendo obras de arte, que parecem fazer bem o gosto estadunidense, que não estava na minha expectativa nessa antologia com nomes da fantasia.
“Qual é a sua profissão?”, de Gillian Flynn – É um conto muito bom e instigante sobre uma profissional do sexo experiente em punhetas que após alguns anos trabalhando com isso e um problema de tendão, passou a frente da clínica de “massagem” Palmas Epirituais e começou a prestar serviços como vidente. O trabalho era bem cansativo, pessoas tristes e madames com problemas conjugais. Até que aparece Susan Burke que está tendo problemas com o enteado e a suposta mansão assombrada para a qual se mudou. Ela vai se envolver nesse caso de uma forma que não será fácil de livrar dele. A narrativa fluida da Gillian foi excelente, você começa a ler e vai se envolvendo, os conflitos são bem construídos e quando acaba, num momento ainda sem tantas revelações, faz você desejar que isso seja apenas a amostra de um romance, não um conto mesmo, porque a vontade de continuar a ler é muita.
“Um jeito melhor de morrer”, de Paul Cornell – Esse foi um conto bem confuso. Ele se demora um pouco a revelar do que se trata e quem diabos é Hamilton e ao que está à mercê. Revela-se, então, que estamos lendo uma história numa tempo-espaço diferente no qual graças aos motores dos Forasteiros (alienígenas?) pode-se ter acesso aos mundos opcionais, dos quais os cortesãos europeus retiram versões novas de si para trazerem para sua dimensão, mudar suas consciências e permanecerem continuamente jovens. Hamilton é um major e se verá no meio de um teste da Majestade da Bretanha em busca de saber se esse processo é confiável e se as pessoas dos mundos opcionais são dotadas do equilíbrio ou se são ameaças para essa dimensão. Acho que o autor tentou explorar uma coisa num conto que caberia melhor em uma novela no mínimo, porque ficaram várias dúvidas e o desenlace do fim pareceu de certa forma súbito demais. Não foi dos melhores.
“Um ano e um dia na velha Theradane”, de Scott Lynch – É aquela noite do mês e Amarelle está na Marca do Fogo Caído para encontrar seus colegas, como o costume. Depois que todos eles adquiriam santuário e se aposentaram da vida de ladrões — antes que virassem estátuas iluminando as rua de Theradane —, só restam-lhes beber e jogar carteado. Mas, como também é costume, o embate externo entre os magos do Parlamento do Conflito está desestabilizando o tempo e um dos monstros da maga Ivovandas acaba atingido o bar e atrapalhando a noite dela e de seus amigos. Bêbada e irritada, ela resolve ir até a casa dessa Ivovandas falar umas verdades, mas uma vez que a ameaça e descumpre os termos de seu santuário — fato registrado por Ivovandas —, a maga a chantageia para o cumprimento de um favor em troca de não denunciá-la. Agora ela terá um ano e um dia para roubar a rua que é o lócus — o local de poder — do mago rival dela, Jarrow. Gostei muito desse conto, tem bastante humor e um tom gailmanesco que foi bem interessante. Nada surpreendeu vindo de Scott Lynch, um autor que fosto.
“A caravana para lugar nenhum”, de Phyllis Eisenstein – Alaric é um bardo que viaja pelo mundo aproveitando-se de seu poder de teletransporte. Certa noite, numa taverna da região desértica que visita, ele é abordado por um chefe de caravanas e acaba por se envolver nessa viagem em busca de suplementos. Piros é conhecido pelo seu comércio, mas também por carregar o misterioso Pó do Desejo, substância que encontra muitos adeptos que pagam por ele alto valor. O Pó também é a única coisa que parece manter um pouco de sanidade em seu filho Rudd. Alaric poderia avançar toda a extensão daquele trajeto por meio de sua habilidade, mas muitas vezes aproveita essas jornadas para conhecer melhor sobre os locais e suas histórias. Um deserto lhe reserva diversas delas entre suas noites cortadas por gemidos e murmúrios de sofrimento que espantam e inteiras cidades de miragem que parece chamar e seduzir aqueles que caminham pelas areias. A inalcansável cidade misteriosa, pela qual o jovem Rudd é aficionado, pode ser até um desafio para as habilidade do bardo Alaric. Apesar de não ter tantos elementos de complexidade em seu enredo, o conto da Phyllis, por ter uma narrativa muito boa e envolvente, foi bem bacana de se ler. Fluiu natural e instigante. Deu vontade de ler mais sobre a autora e esse personagem Alaric, pelo qual é conhecida.
“Galho envergado”, de Joe R. Lansdale – Hap é um guarda noturno que vez ou outra faz serviços do que se pode dizer detive particular com seu amigo Leonard. Mas pior que qualquer cliente e caso que ele enfrente, sempre é ruim ter de resolver algum problema de sua enteada Tillie. Mas não há outra coisa que ele possa fazer para sua amada Brett que ir atrás de sua filha quando uma amiga avisa que ela está desaparecida há alguns dias. Envolvida ocasionalmente com drogas e prostituição, Tillie sempre deu seus perdidos, voltando tempos depois para casa, mas dessa vez Brett sente que a coisa pode ser pior. Hap terá que ir para a pequena cidade texana onde nasceu, de onde se têm as últimas notícias da jovem, e, para resgatá-la, terá que matar ou morrer em troca de ela permanecer viva. Foi um experiência bem interessante, esse conto. Tem aquele clima rural que eu gosto, além de ser um procedural thriller de detetives particulares que não necessariamente prezam pela lei ao cumprir seu caso. Se tivesse fantasia, seria um urban fantasy bem legal e teria gostado mais.
“A árvore reluzente”, de Patrick Rothfuss – Bast é um garoto que mora com seu mestre Reshi na hospedaria Marco do Percurso, prestando-lhe pequenos serviços enquanto este lhe serve com tutor e professor. Mas Bast passa mesmo seu dia na árvore reluzente recebendo outras crianças para ajudá-las em pequenas coisas, como inventar mentiras, criar charadas ou passar informações sobre o povo encantado. Tudo isso em troca de favores e pequenas bugigangas que essas crianças possam carregar. Nesse dia, um amigo lhe pedirá, afora informações que o deixam instigado a passar, que lhe ajude a afastar seu pai que bate em sua mãe e irmã. Se fiz a matemática certo, esse é o maior conto do livro. É realmente bom e pude apreciá-lo, mesmo que faça parte de A Crônica do Matador do Rei, sem ter lido nada da série. O Patrick sabe envolver o leitor e criar uma narrativa empolgante, com personagem legais e todos os elementos que um leitor possa buscar em uma narrativa. Realmente bom, preciso pegar meu “O nome do vento” e parar de perder tempo não o lendo.
“Em cartaz”, de Connie Willis – Lindsay sai para uma tarde de cinema com as amigas Zara e Kett. Tudo bem normal, mesmo que o Cinedrome mais parece uma Disneylândia de tantas lojas e conveniências. Ver um filme parece o de menos ali. Mas é isso que ela foi lá fazer, suas amigas lhe prometeram que não iriam até ali apenas para conhecer garotos ou paquerar. Iam pelo filme Christmas carpe que ele queria muito ver. Prometera vê-lo com Jack, mas há tempos ele não dá as caras, então tudo bem. No entanto, ir a uma sessão de filme será a coisa que menos conseguirá fazer nesse sábado. De antemão tenho que dizer que após a apresentação de Connie e suas credencias como superpremiada em todos os prêmios de fantasia e ficção científica que se pode imaginar, eu estava esperando um conto de fantasia/sci-fi à altura. Infelizmente ele não veio na forma que eu desejava, mas a escrita da autora se mostrou bem fluida e envolvente, nessa história meio louca sobre uma conspiração nesses verdadeiros parques centers cinemáticos.
“O príncipe de Westeros”, de George R. R. Martin – Nesse conto do universo de As crônicas de gelo e fogo, vamos saber um pouco sobre Daemon Targaryen, irmão do rei Viserys I Targaryen, suas andanças por Westeros e a ambição de suceder seu irmão e tornar rei. George R. R. Martin apresenta diversos personagens e basicamente a ramificação completa da árvore genealógica do rei Viserys e também a dinâmica entre as figuras de outras partes de Westeros além de Porto Real. Foi um conto cheio de informações, nomes que dificilmente decorei ou suas relações entre si, mas que tem bastante dinâmica e oferece mais elementos para expandir esse universo da série de livros. Por apenas ter lido “A guerra dos tronos” não peguei toda a relação na linha história que é apresentada nessa narrativa — inclusive tive dificuldade de entender a contagem de anos que aparece nela —, porém foi de certa forma independente da linha dos livros, deixando à parte o final que não é explícito uma vez que o próprio narrador declara que o que se segue, na vida dos personagens, é de conhecimento de todos.